Unidade 21
Corpos sarados são corpos saudáveis?

Ponto de partida

  1. Em nossa sociedade, existe um ideal de beleza? Qual?

  2. É possível atingir esse ideal?

  3. Você está satisfeito com seu corpo?


Objetivos da unidade

  1. discutir os padrões corporais de forma crítica e coerente, compreendendo-os como imaginários e transitórios;

  2. conhecer as alterações da imagem corporal e os distúrbios alimentares, compreendendo suas causas, seus sinais e seus sintomas;

  3. discutir os padrões corporais de forma crítica e coerente, compreendendo-os como imaginários e transitórios;

  4. conhecer as alterações da imagem corporal e os distúrbios alimentares, compreendendo suas causas, seus sinais e seus sintomas;

  5. compreender a relação dos distúrbios alimentares com o ideal de um corpo perfeito;

  6. realizar práticas corporais como forma de superar padrões de beleza;

  7. desenvolver uma imagem corporal positiva de si e dos outros;

  8. respeitar as diferenças corporais durante a realização das aulas.

O objetivo desta unidade é discutir como os padrões corporais são transitórios e idealmente construídos. O conceito de belo é historicamente definido e, portanto, transforma-se ao longo do tempo. Por esse motivo, não deve servir de único padrão a ser seguido por mulheres e homens. É preciso compreender a imposição dos padrões corporais como uma construção social e, na maioria das vezes, midiática. A busca incessante por um ideal de beleza, geralmente inalcançável, pode causar sérios danos à saúde física e mental.

Conhecer os sinais e sintomas causados pela alteração da imagem corporal e pelos distúrbios alimentares é fundamental para que o tratamento necessário seja realizado em tempo. Compreender que não deve existir um padrão a ser seguido e que o discurso da beleza a todo custo nem sempre corresponde à busca pela saúde é imprescindível para a construção de uma imagem corporal positiva de si, bem como para entender a necessidade de respeitar as características do outro.

Discutindo os padrões corporais

Assim como muitos conceitos, o ideal de belo foi alterado ao longo da história. O que hoje consideramos bonito ou perfeito já foi sinônimo de feiura em outras épocas. Mas o que é o belo?


Leia a definição a seguir e reflita a respeito.


A noção de belo coincide com a noção de objeto estético só a partir do século XVIII; antes da descoberta da noção de gosto, o belo não era mencionado entre os objetos produzíveis e, por isso, a noção correspondente não se incluía naquilo que os antigos chamavam de poética, isto é, ciência ou arte da produção. Podem ser distinguidos cinco conceitos fundamentais de belo, defendidos e ilustrados tanto dentro quanto fora da estética: 1) o belo como manifestação do bem; 2) o belo como manifestação do verdadeiro; 3) o belo como simetria; 4) o belo como perfeição sensível e 5) o belo como perfeição expressiva. Segundo Platão, só à beleza, entre todas as substâncias perfeitas, “coube o privilégio de ser a mais evidente e a mais amável”. Por isso, na beleza e no amor que ela suscita, o homem encontra o ponto de partida para a recordação ou a contemplação das substâncias ideais.

ABBAGNAMO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O padrão que vemos hoje nos meios de comunicação é apenas uma das expressões possíveis do belo. Analise as imagens e perceba como o ideal de beleza mudou ao longo do tempo.


©Wikimedia Commons/Museu de História Natural de Viena

Pré-História

©Shutterstock/Carmen Ruiz

Grécia Antiga

©Wikimedia Commons/Kelson

Idade Média

©Wikimedia Commons/ Galleria degli Uffizi

Renascimento

LatinStock/Corbis/Sunset Boulevard

Década de 1950

Organize as ideias

Com base no conceito de belo apresentado e nas imagens, converse com seu professor e seus colegas sobre os padrões de beleza presentes nessas diferentes épocas. Existe algo em comum entre eles? Quais são as diferenças?

A beleza hoje

Atualmente, homens e mulheres são “bombardeados” com informações e imagens daquilo que se considera bonito e saudável. Há um padrão sendo disseminado por capas de revista, artistas de TV, cantores e modelos, o qual acaba influenciando as escolhas individuais e a formação da identidade da maioria das pessoas.

Diferentemente do que ocorre nos dias de hoje, nem sempre o ideal de saúde e beleza esteve atrelado à obrigação de ser magro, simétrico ou ter um corpo malhado.

A historiadora Mary del Priore, da Universidade de São Paulo, indica que o primeiro documento sobre a beleza da mulher brasileira seria a carta de Pero Vaz de Caminha, que louva a beleza da mulher indígena, descrita como limpa e gorda.
“É interessante esse olhar masculino sobre o corpo da índia nua e gorda porque a gordura, de fato, no século XVI, as carnes cheias, o corpo cheio, é sinônimo de beleza que nós já podemos detectar na pintura do Barroco. Uma mulher de costelas à mostra seria certamente um sinônimo de feiura. A magreza sempre é vista da perspectiva da fome, do empobrecimento e da doença.”
A gordura como padrão de beleza se associa também com o consumo alimentar das elites que tinham acesso ao açúcar, artigo raro e muito caro naquela época. Mary del Priore explica que, no decorrer dos séculos, o corpo feminino mais cheio continuou a ser admirado. As curvas seguiam insinuando o poder feminino de gerar.
“E esse potencial procriador está nos quadris, está nas cadeiras, no bumbum, no ventre. Quanto mais cheio embaixo, mais bonita era a mulher. A moda, inclusive, vai acentuar esse critério estético porque a moda das anquinhas, que atravessa toda a segunda metade do século XIX, ela acentua o posterior da mulher, enquanto o espartilho comprime violentamente a cintura, projetando os seios. Então, realmente a mulher se torna no imaginário masculino um verdadeiro violão.”
Nesse mesmo século XIX, a magreza vira moda na esteira das heroínas românticas retratadas nos livros. As mulheres se deixavam emagrecer e se maquiavam para simular olheiras mais profundas. Mas foi um modismo passageiro, e a imagem das carnes cheias como padrão de beleza vai chegar até o século XX. Mas nesse momento, transformações importantes acontecem com a mudança nos papéis da mulher e sua entrada no mercado de trabalho.


ESPECIAL Beleza 1 – As mudanças dos padrões de beleza ao longo da história. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-ESPECIAL/339786-ESPECIAL-BELEZA-1--AS-MUDAN%C3%87AS-DOS-PADR%C3%95ES-DE-BELEZA-AO-LONGO-DA-HIST%C3%93RIA-(-06’-01’’-).html>. Acesso em: 23 ago. 2015.

Ainda que, em determinado período da História, a gordura tenha sido sinônimo de riqueza e saúde, hoje, os meios de comunicação propagam um discurso que ressalta a magreza e a atividade física como fundamentais para alcançar a beleza e a saúde. Mesmo aqueles que não atendem a esses requisitos conseguem, utilizando-se de algumas estratégias, passar essa imagem.


Você sabia?

Existem programas de edição de imagens que fazem verdadeiros milagres quando manuseados por profissionais. Trata-se de softwares cujas ferramentas são capazes de apagar rugas ou, até mesmo, proporcionar um efeito de maquiagem para cobrir imperfeições da pele. É difícil imaginar qual celebridade ou revista não utiliza essas ferramentas para tratar suas fotos. Portanto, é preciso olhar com cautela para a perfeição presente no padrão de beleza veiculado pela mídia, pois, na verdade, ele só existe idealmente e de modo artificial.





©iStockphoto.com/luanateutzi

Entrando em campo

Certamente, você já deve ter ouvido falar de fórmulas para ficar esteticamente mais bonito. A definição do corte de cabelo, da roupa e do modo de se comportar é pautada pela necessidade de sentir-se bem e de ser aceito pelos outros. Analise as tirinhas e anote sua opinião sobre as exigências a que estamos submetidos cotidianamente.


Mulher de 30/www.mulher30.com.br

© Laerte


Corpos sarados são sempre saudáveis?

Os padrões de beleza sugerem que as pessoas devem ser magras, associando a ideia de magreza à saúde, a qual somente pode ser conquistada por meio de uma rotina alimentar disciplinada e com a prática diária de exercícios físicos.

Ao analisar as capas de uma famosa revista voltada ao público jovem feminino, as autoras do texto apresentado a seguir revelam pontos interessantes que nos ajudam a refletir a respeito dos padrões corporais.

Não há dúvida de que na sociedade contemporânea as atividades físicas têm adquirido grande destaque em diferentes produtos da mídia, sobretudo, porque a este termo são acoplados outros como saúde, beleza, performance, longevidade e juventude, cuja combinação é promissora de felicidade, consumo e qualidade de vida. Jornais e revistas, outdoors, sites da Internet, livros especializados e a mídia televisiva, entre outros, disponibilizam uma série de informações a serem acessadas por aqueles que a elas dedicam algum interesse. [...]

Capas de revistas geralmente mostram mulheres bonitas, magras e supostamente saudáveis

©Shutterstock/Istry Istry

Fala-se de saúde como sinônimo de beleza e vice-versa sendo a atividade física apresentada como o ponto de interseção entre ambas, a base sobre a qual cada uma se sustenta, intensifica e potencializa. [...]
Para a pesquisadora australiana Deborah ­Lupton­­, o ato de exercitar-se regularmente objetivando, fundamentalmente, a manutenção do corpo e da boa forma, atua como um marcador da capacidade que um indivíduo tem para a autorregulação. Este conceito de exercício, afirma a autora, está fortemente atrelado ao conceito de saúde como uma criação ou como uma realização do eu. “Está também relacionado a noções contemporâneas mais amplas de corpo ideal como aquele que é controlado firmemente, contido no espaço, destituído de excesso de gordura ou de músculos flácidos” (Lupton, 2000, p. 29).
O estilo atlético evoca, constantemente, o engajamento à malhação naturalizando, portanto, a prática de atividades físicas. Exercitar-se não parece ser uma opção, mas algo que está dado para todas, como se fosse possível pensar em um sujeito adolescente feminino universal, para o qual o exercício físico é parte de sua rotina. [...]
Talvez mais importante seja entender como as representações de saúde, beleza e atividade física são reiteradamente articuladas de forma que reafirmem, a todo o momento, o quanto é necessário investir no corpo, educá-lo consoante os padrões estéticos de cada tempo e cultura. E mais: compreender como diferentes produtos da mídia valorizam essa articulação, produzindo e reproduzindo imagens e discursos de corpos considerados em forma, como por exemplo, os corpos que exibem de atrizes e atores, modelos fotográficos, “celebridades” e atletas.


FIGUEIRA, Márcia Luiza Machado; GOELLNER, Silvana Vilodre. A promoção do estilo atlético na revista Capricho e a produção de uma representação de corpo adolescente feminino contemporâneo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 87-99. jan. 2005. Disponível em: <http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/149>. Acesso em: 23 ago. 2015.

Atividades

Releia o texto e responda às questões.

  1. De acordo com a análise desenvolvida pelas autoras, qual é o ideal de beleza imposto pela revista às adolescentes?

  2. De que forma a prática de atividades físicas, mais especificamente da musculação, faz parte da concepção de beleza universal feminina da qual falam as autoras?

  3. Como você sente a pressão pela busca de um ideal de beleza na adolescência?

O número de academias no Brasil tem crescido de forma acentuada nas últimas décadas em razão da compreensão da necessidade de realizar exercícios físicos para a melhoria e a manutenção da saúde. Essas práticas não precisam necessariamente ocorrer dentro das academias, mas questões relacionadas à insegurança nas grandes cidades, entre outros fatores, fazem com que as pessoas procurem um espaço fechado para realizá-las.

De todo modo, como tudo o que fazemos, a prática da musculação também deve ser realizada de forma consciente e equilibrada.

Fisiculturismo

O fisiculturismo ou culturismo é um esporte cujo objetivo é melhorar a formação muscular por meio do treino de musculação. Os requisitos avaliados no fisiculturismo são volume, simetria, proporção e definição muscular. Os praticantes exercitam-se de forma massiva por meio de uma série de exercícios diários e devem seguir uma alimentação específica. Normalmente, os atletas de fisiculturismo sofrem diversas mudanças no corpo, as quais, algumas vezes, podem oferecer riscos à saúde.

Um exemplo das alterações que o corpo pode sofrer com essa prática é o caso de Giuliano Stroe, um romeno que vive na Itália. Aos cinco anos, ele foi considerado o menino mais forte do mundo. Segundo seu pai, que lhe deu o apelido de Pequeno Hulk, o menino treina desde os dois anos de idade.


Giuliano Stroe

Getty Images/Barcroft Media


Anabolizantes e seus riscos à saúde

Os anabolizantes, como comumente são conhecidos, são hormônios naturais ou sintéticos que promovem o crescimento e a divisão celular, resultando no desenvolvimento de diversos tipos de tecido, especialmente o muscular e o ósseo. Sem necessidade e sem orientação médica, sua utilização causa riscos à saúde, superando muito suas vantagens. Os efeitos colaterais das superdosagens são diversos, incluindo problemas no fígado, como o desenvolvimento de câncer; redução da função sexual; derrame cerebral; alterações de comportamento com aumento da agressividade e do nervosismo; aparecimento de acne; entre outros.

Nos homens, pode acarretar, ainda, diminuição da produção de espermatozoides, retração dos testículos, impotência sexual, dificuldade ou dor ao urinar, calvície e o desenvolvimento irreversível de mamas. Em ambos os sexos, pode ocorrer parada prematura do crescimento, o que faz com que as pessoas se tornem mais baixas quando comparadas àquelas que não são usuárias de anabolizantes.

A parada brusca do uso de anabolizantes também pode produzir alguns sintomas, como depressão, fadiga, insônia, diminuição da libido, dores de cabeça, dores musculares e síndrome da abstinência (desejo de tomar mais anabolizantes). Outro risco à saúde é que esteroides injetados por seringas e agulhas não esterilizadas podem expor o indivíduo a doenças como aids e hepatites B e C.

Não é difícil ter notícias de pessoas conhecidas que não têm informação ou consciência dos riscos à saúde causados pelo uso de anabolizantes. Atualmente, o uso dessas drogas não é restrito aos homens. Muitas mulheres, em busca de um corpo perfeito, aderiram a essa prática.

Atividades

As imposições sociais interferem na construção da imagem corporal. Para que possamos discutir essa construção, a proposta é realizar uma dinâmica que fará você refletir sobre o assunto. Lembre-se de que o respeito a si e aos outros é fundamental para que a prática dê certo.

Alterações da imagem corporal: como reconhecer e o que fazer?

É importante entender que o modelo de beleza imposto pela mídia é apenas uma possibilidade entre muitas. A realidade apresenta tantas imagens corporais quantas são as singularidades existentes. Entretanto, pelo fato de o modelo de beleza imposto socialmente ser o único valorizado, algumas pessoas buscam incessantemente alcançá-lo, o que contribui para que haja uma distorção da visão que os indivíduos têm de si e dos outros.

Para os homens, o padrão de beleza ideal associa-se a um corpo bonito e que tenha uma ótima definição muscular, ou seja, ele deve apresentar um corpo musculoso e com baixos níveis de gordura. Para as mulheres, é disseminado um padrão de corpo magro, conquistado pela perda de peso.

Um dos problemas em eleger um único modelo de beleza, além de reprimir outras possibilidades de estéticas corporais, é que, para alcançar o padrão corporal dominante, exige-se a criação de hábitos muito rígidos, não realizáveis pela maioria das pessoas nem necessários a uma melhoria da saúde.

Muitas vezes, a forte e rígida prescrição de hábitos para alcançar o corpo “perfeito” pode gerar insatisfação e levar a desequilíbrios de saúde, os quais são consequências, por exemplo, de distúrbios alimentares e do uso de esteroides anabolizantes e de suplementos alimentares. O resultado é o favorecimento de patologias de ordens fisiológica, cognitiva, comportamental e social.

Nosso relacionamento com o corpo é o ponto focal, fulcral, nuclear, que patenteia nosso “ser no mundo”. Percebe-se que há uma construção cultural do corpo, definida e colocada em prática, em virtude das especificidades culturais de cada sociedade, na qual o conjunto de hábitos, costumes, crenças, tradições, que caracterizam uma cultura, também refere-se ao corpo. [...]
É inegável a crescente importância que, nas sociedades modernas, atribui-se a alguns “valores” entre os quais poder, beleza, juventude, riqueza, que estratificam os seres humanos de acordo com princípios preestabelecidos culturalmente.
A busca frenética do corpo ideal pelo ser humano, produzido pela mídia e desfilado em revistas, filmes e novelas tem acarretado uma falta de bom senso e critério, em que o importante é estar dentro dos padrões determinados, independente das consequências. A beleza é buscada e comprada a qualquer preço e a qualquer custo. [...]
Acreditava-se frequentemente que as mulheres estivessem muito mais insatisfeitas com sua aparência que os homens, mas, na realidade, observa-se que muitos homens acham-se tão infelizes em relação a ela quanto as mulheres. Além disso, os homens não estão apenas preocupados ou insatisfeitos com sua imagem corporal; podem também possuir uma visão distorcida, percebendo a si mesmos diferentes (e geralmente piores) do que realmente são. Existe assim, não raro, um círculo vicioso estabelecido: quanto mais uma pessoa concentra-se em sua aparência corporal, pior tende a sentir-se a respeito do que vê – a obsessão alimenta o descontentamento.
A neurose do corpo perfeito constitui, nos dias atuais, uma verdadeira “epidemia” que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo sobretudo, [sic] adolescentes e adultos jovens. Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional? De um modo geral, o pensamento falho e doentio das pessoas portadoras dessas patologias caracteriza-se por uma obsessão pela perfeição corporal. Na realidade, trata-se de uma “epidemia de culto ao corpo”.
Essa “epidemia” multiplica-se numa população patologicamente preocupada com a perfeição do corpo e que está sendo afetada por alterações psíquicas caracterizadas por distúrbios na representação pessoal da imagem corporal. Entenda-se por imagem corporal a forma como um indivíduo percebe-se e sente-se em relação ao seu próprio corpo. [...]
Essa obsessão de beleza física e perfeição convertem-se [sic] em autênticas doenças emocionais, acompanhadas de severa ansiedade, depressão, fobias, atitudes compulsivas e repetitivas (olhadas seguidas no espelho) que conduzem ao chamado transtorno dismórfico corporal.
Os transtornos dismórfico-corporais e os transtornos alimentares compartilham alguns sintomas em comum, tais como desejar uma imagem corporal perfeita e favorecer uma distorção da realidade diante do espelho. Isso ocorre porque, nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem convertido-se num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspecto físico parece ser o único sinônimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, “saúde”.
O termo dismorfia corporal foi proposto em 1886 pelo italiano Morselli.
Embora exista um grande número de pessoas muito preocupadas com sua aparência, para ser diagnosticado de dismorfia, deve haver sofrimento significativo e uma reiterada obsessão com alguma parte do corpo que impeça uma vida normal. Quando esse quadro todo fixa-se na questão muscular, havendo uma busca obsessiva para uma silhueta perfeita, o transtorno se chama vigorexia ou transtorno dismórfico muscular (Pope, Phlillips, Olivardia, 2000, p. 28).


FERREIRA, Maria Elisa Caputo; CASTRO, Antônio Paulo André de; GOMES, Gisele. A obsessão masculina pelo corpo: malhado, forte e sarado. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 27, n. 1, p. 167-182, set. 2005. Disponível em: <http://rbce.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/141>. Acesso em: 23 ago. 2015.

Vigorexia

Como vimos, não são somente as mulheres que sofrem com a busca de um “corpo perfeito”. Aos homens também é ditado um padrão ideal e isso pode levá-los ao transtorno dismórfico muscular, ou vigorexia.

A vigorexia é um distúrbio que faz com que uma pessoa, diante do espelho, mesmo saudável e musculosa, não se contente com sua imagem corporal, enxergando-se fraca e franzina. Como consequência, passa a praticar exercícios com uma intensidade superior à capacidade que seu corpo tem de se recuperar (overtraining: excesso de exercícios). Entre os objetivos mais comuns perseguidos pelos vigoréxicos estão o aumento da massa muscular e a definição da musculatura.
Escultura de Adônis, considerado o homem mais bonito da Grécia Antiga

LatinStock/Akg-images

Aliado à imagem corporal distorcida, um grande indício da vigorexia pode ser verificado em casos em que o overtraining se torna frequente, podendo causar lesões, fraturas e até osteoporose. Além disso, é comum vigoréxicos, com o objetivo de alterar suas características físicas, associarem ao treinamento excessivo a utilização de substâncias como esteroides anabolizantes e suplementos alimentares, as quais, sem o acompanhamento médico, podem causar prejuízos à saúde.

A principal característica da vigorexia é a representação distorcida que se tem do corpo – apesar da grande hipertrofia muscular que apresenta, o vigoréxico se vê pequeno e fraco. O objetivo de uma pessoa que apresenta esse distúrbio é alcançar um padrão de beleza idealizado, que, na maioria das vezes, nem sequer existe. Por isso, inicialmente, a vigorexia ficou conhecida como síndrome de Adônis, em referência ao personagem mitológico símbolo da beleza física.


Algumas características de quem apresenta o distúrbio da vigorexia:
  • preocupação exagerada com o próprio corpo;

  • distorção da imagem corporal;

  • baixa autoestima;

  • personalidade introvertida;

  • tendência à automedicação e alterações na dieta;

  • compulsão ao perfeccionismo.

José Luis Juhas. 2012. Digital.

Atividades

Nas duas próximas aulas, o objetivo é vivenciar o futebol com regras reelaboradas e adequadas ao ambiente escolar, permitindo a participação de todos, independentemente da condição física e de padrões corporais.

As práticas corporais e a satisfação com a imagem corporal

Você pôde perceber que a atividade física, muitas vezes, está diretamente atrelada à busca pelo corpo ideal. Em alguns casos, ela se relaciona ao padrão corporal de um modo negativo, pois seu excesso pode causar transtornos. Em outros, trata-se de um fator positivo e benéfico para a saúde, principalmente porque pode aumentar a satisfação que as pessoas têm com o corpo.

Desse modo, pode-se dizer que as atividades físicas são positivas ou negativas para a construção da imagem corporal dependendo do sentido dado por cada um para sua realização. Para alcançar a satisfação corporal, mais importante que a construção de um corpo em função do modelo estético ditado culturalmente, sujeito a ajustes e desequilíbrios, é construir uma imagem corporal positiva de si mesmo. Isso implica aceitar o fato de que a riqueza e a beleza do ser humano se encontram em suas características singulares, constituídas e expressas por meio de sua individualidade.

O quadro a seguir destaca diferentes sentidos para a realização de atividades físicas, apontando aspectos positivos e negativos em relação à construção de uma imagem corporal satisfatória.


Aspectos negativos Aspectos positivos
Exagerar na quantidade e na carga da atividade física. Executar a atividade física diariamente durante uma hora.
Realizar a atividade física buscando somente objetivos estéticos para se enquadrar no modelo corporal imposto pela sociedade. Relacionar a prática de atividade física à saúde e à qualidade de vida.
Realizar as atividades físicas somente por obrigação. Associar a realização de práticas corporais a aspectos lúdicos e recreativos, obtendo diversão e prazer.

Organize as ideias

E você? Com que frequência pratica atividades? Quais são seus objetivos ao realizá-las? Depois de pensar a respeito dos aspectos positivos e negativos atrelados às práticas corporais, converse com seus colegas e escreva no quadro seus objetivos, suas práticas e a frequência com a qual as realiza.

As práticas corporais estabelecem uma dupla relação com o corpo: ao mesmo tempo que exigem determinado tipo físico, acabam moldando o corpo do praticante. Crianças altas comumente são encaminhadas, pelos pais ou professores, para a prática de esportes como vôlei e basquete. Crianças baixas e ágeis geralmente são indicadas para a ginástica artística. O treino sistemático desses esportes acaba ressaltando tais características, pois molda os corpos em função de suas exigências.

Desse modo, o treino precoce da ginástica artística faz com que crianças e jovens apresentem uma composição corporal característica. O mesmo acontece com praticantes de balé, natação ou atletismo, por exemplo.

O treinamento sistemático de determinada modalidade acaba moldando o corpo do praticante em virtude de suas exigências.

©iStockphoto.com/technotr

Assim como o treino técnico exaustivo de cada prática define a forma corporal do atleta, as exigências do alto rendimento fazem com que seu corpo esteja preparado para os momentos de competição. Essa é uma das características que distinguem o esporte de rendimento daquele praticado por pessoas comuns nos momentos de lazer.

Apesar dessa exigência, em algumas práticas corporais, essa padronização não ocorre de forma tão evidente. Um exemplo é o futebol, esporte em que a conformação corporal e o perfil atlético são heterogêneos. Alguns atletas fogem do padrão e conseguem superar possíveis dificuldades em função de suas características físicas, tornando-se grandes jogadores.


A baixa estatura de Romário e as pernas tortas de Garrincha evidenciam como o futebol é um dos esportes que permitem a participação de atletas com diferentes composições corporais

©Shutterstock/A. Einsiedler

O futebol é uma modalidade esportiva que não exige de seus praticantes determinado padrão corporal. Mesmo entre os atletas profissionais, facilmente se encontram tipos físicos diversos. A proposta, agora, é realizar mais um jogo de futebol adaptado à escola.

Distúrbios alimentares: como reconhecer e o que fazer?

Na juventude, assim como em todas as fases da vida, existe a necessidade de criar uma identidade, o que acaba definindo diferentes grupos, formados pela afinidade existente entre as pessoas. A valorização de uma imagem corporal específica e socialmente idealizada pode, em certa medida, contribuir para o surgimento de um grupo de pessoas insatisfeitas com sua imagem corporal. Alguns jovens, na tentativa de se adequar aos padrões corporais ditados socialmente, respondendo à falsa necessidade de ter um corpo ideal, acabam desenvolvendo os chamados transtornos alimentares.

Atualmente, os transtornos alimentares têm sido frequentemente contemplados pelos estudos científicos, pois são doenças complexas que estão afetando cada vez mais a população adolescente, chegando a englobar de 5% a 10% da população americana. Entre os transtornos mais comuns encontram-se a bulimia, a anorexia e a ortorexia.

Divo. 2015. 3D.

Conhecendo a anorexia, a bulimia e a ortorexia

Como você pôde perceber, a imposição de um modelo de corpo ideal pode gerar desequilíbrios decorrentes da insatisfação corporal. A bulimia e a anorexia são os transtornos mais conhecidos; a ortorexia, menos conhecida, ainda não é totalmente aceita como um transtorno alimentar.

Você sabe o que significa cada um desses termos?

Anorexia

Uma pessoa com anorexia nervosa faz uma representação deturpada de sua imagem corporal de tal maneira que avalia a forma, o peso e o tamanho de seu corpo de modo distorcido e distante da realidade.

Indicadores da presença da anorexia:

  • Recusa de manter um peso corporal na faixa normal mínima.

  • Medo mórbido de engordar.

  • Recusa alimentar.

  • Longos períodos de jejum ou restrição alimentar.

  • Uso de inibidores de apetite, laxantes e diuréticos.

  • Presença de amenorreia no sexo feminino ou a diminuição da libido no sexo masculino.

  • Prática exagerada de atividade física.

ASSUNÇÃO, Sheila Seleri Marque; CORDÁS, Táki Athanássios; ARAÚJO, Luiz Armando Serra Barreto. Atividade física e transtornos alimentares. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 23, n. 1, 2002.

Esses indicadores apresentam algumas das características de pessoas com anorexia nervosa – como medo de engordar e uso de laxantes e diuréticos – que são responsáveis por alterar de modo severo o comportamento alimentar e o padrão corporal, ocasionando uma grande perda de massa, que pode chegar a ser maior que 15% da ideal.

Esses sintomas são acompanhados por uma distorção da imagem corporal. Mesmo sendo magra, a pessoa se acha gorda e com excesso de massa, evitando o consumo de alimentos para chegar ao peso que considera ideal. Para quem sofre com a anorexia nervosa, atingir o peso ideal não significa perder alguns quilinhos indesejados. Trata-se de um medo obsessivo de ganhar massa, o que leva o anoréxico a abusar de dietas e exercícios ou de outros métodos para emagrecer, colocando em risco a própria vida.

Danos à saúde em razão da anorexia nervosa:
  • atraso na maturação sexual e alteração hormonal (em indivíduos que se encontram na fase da adolescência e pré-adolescência);

  • sintomas físicos no crescimento, não atingindo o desenvolvimento esperado;

  • complicações sérias em decorrência da desnutrição, como problemas cardíacos e respiratórios, falta de atenção, desidratação, distúrbios intestinais, infertilidade, amenorreia e hipotermia, podendo, inclusive, causar a morte.

José Luis Juhas. 2012. Digital.

Bulimia

A bulimia, também denominada bulimia nervosa, pressupõe uma preocupação excessiva com o corpo e um desejo irresistível por comida. Trata-se de um distúrbio que apresenta vários aspectos semelhantes à anorexia, como distorção da imagem corporal e medo mórbido de engordar. Contudo, o bulímico não costuma ter um estado físico tão visivelmente alterado quanto o anoréxico. As pessoas que apresentam essa doença tendem a ter um peso normal ou, até mesmo, sobrepeso – fato que pode dificultar a identificação do problema.

Indicadores da presença da bulimia:
  • episódios recorrentes de compulsão alimentar;

  • métodos compensatórios para evitar o ganho de peso (indução a vômitos, uso de laxantes e diuréticos, jejum, prática excessiva de exercícios);

  • sensação subjetiva de perda de controle.

Os métodos mais comuns utilizados pelos bulímicos para perder e controlar a massa corporal são a indução a vômitos e o uso de laxantes, diuréticos e inibidores de apetite, geralmente depois de um exagero alimentício.

Complicações causadas pela bulimia, decorrentes do uso de métodos de controle de peso:
  • irritação no esôfago (por vezes com sangramento);

  • irritação gástrica (podendo haver sangramento ou desenvolvimento de úlcera);

  • problemas intestinais;

  • erosão do esmalte dos dentes;

  • diminuição das taxas metabólicas.

©Shutterstock/jordache

A atividade física também é um método muito utilizado pelos bulímicos, sendo uma importante estratégia para a perda de peso. O bulímico tem a sensação de que é incapaz de controlar o que come e de compensar os exageros alimentares. Além disso, apresenta uma preocupação exagerada com o corpo, o que geralmente faz com que sua imagem corporal seja distorcida.

Ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos de forma equilibrada são alternativas que previnem a bulimia e nos ajudam a cuidar do corpo, mantendo a saúde e a qualidade de vida.

Atividades

As práticas corporais realizadas na escola e nos momentos de lazer devem ser encaradas como momentos de diversão, manutenção e aquisição de saúde. Portanto, não devem ser vistas apenas como um mecanismo para alcançar determinados padrões estéticos. As duas próximas vivências buscam ressaltar o aspecto lúdico de um esporte muito praticado no Brasil: o vôlei.

©Shutterstock/Ververidis Vasilis

Ortorexia

É difícil encontrar alguém que esteja totalmente satisfeito com seu corpo. Por isso, são criadas várias formas de abordar a alimentação, as atividades físicas e o corpo na busca por uma perfeição que não existe. Assim, a procura obsessiva por dietas totalmente benéficas ao organismo, ao contrário do que possa parecer, pode se transformar em um problema.

A ortorexia nervosa é um exemplo de como a obsessão pela dieta saudável pode se transformar em um distúrbio.

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Apesar de não haver consenso a respeito de a ortorexia ser um transtorno alimentar ou ser reconhecida como uma doença, o distúrbio (do grego orthos: correto e orexis: apetite) foi catalogado pelo médico estadunidense Steven Bratman.

Geralmente, uma pessoa ortoréxica consome, exclusivamente, frutas, legumes e folhas, recusando produtos animais e derivados de qualquer tipo. Dessa forma, os excessos de retidão dietética acabam colocando sua saúde em risco devido à grande perda de peso e à carência de nutrientes.

É comum ortoréxicos serem confundidos com pessoas que praticam o vegetarianismo ou com pessoas que têm um estilo de vida mais naturalista. Porém, seguir a opção de ter uma vida natural e ingerir alimentos saudáveis não significa ter que restringir de forma exagerada a dieta, mas substituir alimentos pouco nutritivos por aqueles que são mais benéficos à saúde.

Outro dano inevitável causado pela ortorexia é o isolamento social, uma vez que é muito difícil encontrar quem compartilhe dos mesmos hábitos. A pessoa que apresenta o distúrbio prefere faltar a compromissos que envolvam comida – como um lanche com os amigos ou um almoço em família – a ter que consumir alimentos que não sejam previstos por sua dieta. Além disso, os ortoréxicos comumente se julgam superiores em relação às pessoas com hábitos não são saudáveis.

Não há um tratamento específico para a ortorexia. Normalmente, para que o ortoréxico consiga desmitificar os conceitos estabelecidos sobre dieta saudável e recuperar sua autoestima, indica-se a combinação das terapias nutricional e psicológica.


Principais características da ortorexia nervosa:


  • fixação por alimentação saudável, com dedicação à dieta por mais de três horas ao dia;

  • preferência ao jejum em vez de comer o que se considera impuro ou perigoso à saúde;

  • sentimento de culpa quando ocorrem lapsos;

  • presença de traços de personalidade fóbicos e obsessivos.

Festival Woodstock, um marco do movimento hippie

Mundo do trabalho

As exigências para ter um corpo perfeito estão presentes nos mais diversos espaços sociais. O mundo da moda tem um papel fundamental na construção de um imaginário de beleza e glamour. A magreza dos corpos das modelos é considerada ideal e gera frustrações na maioria das mulheres, que se sentem descontentes com sua imagem corporal.

©Shutterstock/Photographee.eu

Muitas modelos se submetem a dietas perigosas e se sentem forçadas a apresentar determinada imagem para conseguir contratos com grandes empresas. Tentando frear a busca pela magreza extrema, leis francesas visam garantir a saúde das modelos, lutando também contra a ampliação dos transtornos alimentares, cada vez mais comum entre os jovens.

França deve aprovar lei que proíbe modelos excessivamente magras

Consciente da influência de sua indústria de moda e luxo, que movimenta bilhões de euros, a França irá adotar leis contra modelos magras demais nas passarelas e em anúncios de propaganda, medida já tomada por países como Itália, Espanha e Israel.
“É importante que as modelos digam às jovens, que as tem como inspiração de ideal estético, que precisam se alimentar bem e cuidar da saúde”, disse a ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine, ao canal de televisão BFM [...].
Às vésperas de um debate no Parlamento sobre uma legislação de peso na área da saúde [...], Touraine declarou que o governo deve apoiar duas emendas relacionadas ao peso das modelos. O projeto de lei obrigaria pesagens periódicas e prevê multas de até 75 mil euros para violações, e até seis meses de prisão para funcionários envolvidos, conforme informado pelo parlamentar Olivier Veran, que redigiu as emendas, ao jornal Le Parisien.
As modelos teriam que apresentar um certificado médico mostrando ter um Índice de Massa Corporal (IMC) de pelo menos 18 (cerca de 55 kg para 1,75 m de altura), antes de ser contratadas para um trabalho. O projeto de lei também propõem [sic] penalidades para qualquer publicidade que possa ser vista como incentivo à magreza extrema, em especial sites pró-anorexia, que glamourizam um padrão prejudicial à saúde. [...]


FRANÇA deve aprovar lei que proíbe modelos excessivamente magras. Disponível em: <http://vida-estilo.estadao.com.br/noticias/moda,franca-deve-aprovar-lei-que-proibe-modelos-excessivamente-magras,1652466>. Acesso em: 23 ago. 2015.

Atividades

Vamos conhecer mais uma possibilidade de adaptação do vôlei à escola. Lembre-se de que o principal objetivo é que todos participem de forma divertida.

Entrando em campo

Agora que você estudou as características dos distúrbios alimentares, sua tarefa é ajudar a conscientizar os demais colegas da escola, os professores e o restante da comunidade escolar a respeito das causas e consequências desses transtornos. Siga as orientações do professor e elabore, com seu grupo, cartazes informativos para a comunidade escolar.