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2. ©Shutterstock/Pablo Rogat;
3. Anne S. K. Brown Military Collection, Brown University Library;
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7. ©Shutterstock/John_Walker;
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Unidade 43
Descolonização na Ásia e na África

Ponto de partida

O continente africano e o asiático têm na atualidade sérios problemas ligados à falta de saneamento básico, à fome, à proliferação de doenças e aos conflitos armados. Em seu caderno produza um texto que estabeleça relação entre a situação descrita e as ações das potências imperialistas dos países industrializados.


Objetivos da unidade

  1. resgatar as principais características do Imperialismo ocorrido no fim do século XIX e início do século XX;

  2. retomar a conjuntura mundial ao fim da Segunda Guerra Mundial e durante o início da Guerra Fria;

  3. analisar os impactos da conjuntura mundial pós-1945 para as colônias e regiões africanas e asiáticas exploradas pelos países europeus;

  4. conhecer a importância da Conferência de Bandung, ocorrida em 1955, para a formação do bloco de “países não alinhados”;

  5. conhecer os principais processos de emancipação política ocorridos no continente africano, destacando os conflitos armados contra os colonizadores e as guerras civis que se sucederam em algumas regiões;

  6. analisar as principais características do apartheid na República da África do Sul;

  7. compreender o processo de emancipação política liderado por Mohandas Gandhi na Índia.

No volume anterior, estudamos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o início da luta entre Estados Unidos e União Soviética pela supremacia mundial.

A conjuntura mundial sofreu grandes mudanças em decorrência da destruição causada pelo conflito armado que assolou a Europa e se alastrou por vários locais do globo.

As potências europeias enfraqueceram e foram obrigadas a se voltar para a resolução de problemas internos e a reconstrução de suas infraestruturas. Essas mudanças levaram muitos colonos africanos, asiáticos e oceânicos a pensar em movimentos pela sua emancipação política.

Para recordar alguns dos assuntos estudados no volume anterior, responda às questões da seção a seguir.

Organize as ideias

Analise estes documentos.

Já haviam decorrido quatro anos e nove meses desde as primeiras mortes de civis em Düsseldorf decorrentes da guerra aérea. Dos noventa milhões de metros cúbicos construídos, trinta milhões haviam se transformado em escombros. Apenas quatro por cento dos prédios públicos e sete por cento dos comerciais ou residenciais continuaram de pé e incólumes; o restante foi consumido pelo fogo. Por toda a Düsseldorf barroco-renascentista, uma rede de trilhas formada por pegadas acompanhava os esqueletos das fachadas, exigindo, sobretudo na escuridão, um senso de orientação peculiar.

As crianças se arranjavam; os adultos se recusavam a crer que aquilo fosse a sua Düsseldorf. “Na escuridão das noites, que não permitia enxergar um palmo adiante dos olhos, só se percebiam as montanhas de entulho, a oscilação dos holofotes, o ronco dos pesados motores e o matraquear das baterias antiaéreas. ‘Não!’, ouvia-se a toda hora. ‘Isto não é mais vida!’”

FRIEDRICH, Jörg. O incêndio: como os aliados destruíram as cidades alemãs. 1940-1945. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 248.

Getty Images/Picture Post

ATAQUE com bombas V2 no Mercado de Farringdon, Londres. 8 mar. 1945. 1 fotografia, p&b.

A motorista de ambulância Jean Grover e uma enfermeira procuram por sobreviventes e feridos após o ataque alemão com as bombas voadoras

  1. De acordo com os documentos, assinale a alternativa que apresenta o tema central do texto de Jörg Friedrich.

  2. Ao analisar texto e imagem, podemos concluir que

  3. Sobre o panorama político e econômico internacional após a Segunda Guerra Mundial, analise as afirmativas a seguir.

    I. Teve início a Guerra Fria, disputa ideológica pela hegemonia mundial, travada entre Estados Unidos e União Soviética.

    II. O Plano Marshall, caracterizado pelo auxílio econômico estadunidense aos países destruídos pela Segunda Guerra Mundial, foi um dos instrumentos utilizados para evitar a adesão de países ao bloco socialista.

    III. A União Soviética, com o Pacto de Varsóvia, tinha por objetivo consolidar e ampliar o bloco de países socialistas.











O movimento imperialista promovido pelas potências europeias no fim do século XIX e início do século XX, fundamentado na superioridade dos povos europeus e na exploração de riquezas para suprir as metrópoles, causou graves situações de pobreza, confrontos entre povos e etnias coloniais e ainda entre colonos e exércitos metropolitanos.

Com o enfraquecimento dos países europeus, causado pela Segunda Guerra Mundial, começaram a surgir ou a se fortalecer grupos nacionalistas que passaram a lutar pelas emancipações políticas das colônias.

O desrespeito dos colonizadores pela cultura, costumes e tradições dos povos colonizados gerou um espírito de insatisfação e de vingança contra os representantes do Imperialismo.

Durante o Imperialismo, a Europa passou a ser o destino dos filhos de famílias abastadas das colônias, os quais iam à metrópole para estudar nas grandes universidades. O objetivo dos colonizadores, ao incentivar que jovens das colônias estudassem nas metrópoles, era formar uma elite colonial estreitamente ligada aos interesses metropolitanos. Entretanto, esses jovens entravam em contato com a ideologia nacionalista que impregnava o continente europeu e passavam a refletir sobre a sua condição de “cidadãos de segunda classe” e sobre a exploração sofrida pelo próprio povo. Além disso, tomavam conhecimento da oposição que a intelectualidade europeia fazia à manutenção dos territórios coloniais.

Os grupos nacionalistas procuravam angariar seguidores apelando para os elementos comuns à população: as características étnicas, religiosas e culturais e o ódio aos exploradores estrangeiros.

Interpretando documentos

A respeito da oposição do sociólogo Jean-Paul Sartre ao Imperialismo e à manutenção dos domínios coloniais, leia este fragmento.

Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões de habitantes, isto é, quinhentos milhões de homens e um bilhão e quinhentos milhões de indígenas. Os primeiros dispunham do Verbo, os outros pediam-no emprestado. Entre aqueles e estes, régulos vendidos, feudatários e uma falsa burguesia pré-fabricada serviam de intermediários. Às colônias a verdade se mostrava nua; as “metrópoles” queriam-na vestida: era preciso que o indígena as amasse. Como às mães, por assim dizer. A elite europeia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adolescentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na boca mordaças sonoras, expressões bombásticas e pastosas que grudavam nos dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados. Essas contrafacções vivas não tinham mais nada a dizer a seus irmãos; faziam eco; de Paris, de Londres, de Amsterdã lançávamos palavras: “Partenon! Fraternidade!”, e, num ponto qualquer da África, da Ásia, lábios se abriam: “… tenon! …nidade!” Era a idade de outro.
[...]
1961. Escutai: “Não percamos tempo com litanias estéreis ou mimetismos nauseabundos. Deixemos essa Europa que não cessa de falar do homem enquanto o massacra por toda a parte onde o encontra, em todas as esquinas de suas próprias ruas, em todas as esquinas do mundo. Há séculos… que em nome de uma suposta ´aventura espiritual´ vem asfixiando a quase totalidade da humanidade”. Este tom é novo. Quem ousa adotá-lo? Um africano, homem do Terceiro Mundo, antigo colonizado. Acrescenta ele: “A Europa adquiriu uma velocidade tão louca, tão desordenada… que a arrasta para o abismo, do qual é melhor que nos afastemos.” Em outras palavras: ela está atolada. Uma verdade que não é boa de dizer, mas da qual – não é mesmo, meus caros co-continentais? – estamos todos intimamente convencidos.
[...] [...]

SARTRE, Jean-Paul. Prefácio. In: FANON, Frantz. Os condenados da terra. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p. 23-25.

©Flickr/Government Press Office

Jean-Paul Sartre foi filósofo, escritor e ativista político francês. Nascido em 1906, suas ideias influenciaram o pensamento crítico francês especialmente a partir da década de 1960. Militante da esquerda, Sartre renegava as distinções dos cargos oficiais.

O trecho “Um africano, homem do Terceiro Mundo, antigo colonizado” é uma referência de Sartre ao autor da obra Os condenados da terra, de Frantz Fanon. Esse autor nasceu na Ilha de Martinica e se nacionalizou argelino, lutando na Guerra de Independência da Argélia. Também atuou como uma das vozes mais poderosas nos congressos pan-africanos.

Agora, faça o que se pede a seguir.

  1. Para melhor compreensão do texto, crie um glossário para os seguintes termos/expressões.

    Régulos vendidos:

    Contrafacções:

    Litanias:

    Mimetismos:

  2. A que parte da população mundial Sartre se refere como “indígena”?

  3. Qual era a intenção dos colonizadores ao fornecer educação para jovens colonos nas metrópoles europeias?

  4. É possível estabelecer uma contradição entre o humanismo pregado pelos europeus e suas ações em outros continentes? Justifique sua resposta.

Além dos movimentos nacionalistas crescentes e da formação de lideranças nos territórios colonizados, cabe ainda apontar para a participação dos Estados Unidos e da União Soviética nos processos de descolonização iniciados ao fim da Segunda Guerra Mundial. A disputa por áreas de influência levou essas duas potências a apoiar colônias que iniciavam lutas pela emancipação política. As colônias, exauridas de todos os seus recursos e compostas de uma população humilhada, surgiam como países frágeis, que necessitavam de todo o tipo de auxílio político-econômico. Assim, recorriam aos estadunidenses ou aos soviéticos, pois ambos já haviam fornecido apoio logístico durante o processo de libertação da metrópole.

Descolonização na África

A África, devido à sua proximidade da Europa e à pouca resistência bélica que podia oferecer aos exércitos imperialistas, foi o primeiro e o mais explorado dos continentes que eram alvo da cobiça dos países industrializados.

A violência da Segunda Guerra Mundial no continente africano iniciou-se muito antes da invasão nazista à Polônia em 1º. de setembro de 1939. Tal violência começou em 1935 quando Benito Mussolini invadiu a Etiópia anexando-a como extensão da Itália.

Os processos de emancipação política das colônias africanas foram muito dolorosos e, em alguns casos, envolveram guerras prolongadas contra a metrópole. Em diversos territórios, a luta pela independência foi seguida por guerras civis igualmente violentas. Governos foram instalados e destituídos por assassinatos ou golpes de Estado. Cerca de setenta golpes de Estado foram registrados nos países africanos localizados acima da Linha do Equador desde que os processos de libertação colonial se intensificaram após a Segunda Guerra Mundial. As disputas pelo poder marcaram e marcam muitos dos jovens países africanos. Em alguns casos, essas disputas são pelo controle das principais riquezas do país. Um exemplo é Serra Leoa, onde o controle das minas de diamantes foi o principal motivo do confronto posterior à independência. Em Ruanda, a guerra passou a ser entre duas etnias – tutsis e hutus.

Singulares são os casos em que a própria metrópole concede a emancipação política para as suas colônias. Entretanto, não o fazem antes de formar uma elite dirigente preparada para manter as vantajosas relações comerciais com os até então colonizadores. A República da África do Sul é o melhor exemplo desse tipo de arranjo que visa manter a dependência.

A Itália viveu o seu processo de unificação durante o século XIX, constituindo-se como Estado em 1871. O processo de unificação gerou um atraso na industrialização do país, fato que impediu a Itália de tomar grandes extensões de terra na África.

Marilu de Souza

Fonte: BATHOLOMEW, J. The citizen’s Atlas of the world. Edimburgo: Batholomew and Son, 1935. p. 122-123. Apud: MAZRUI, A. A. (Ed.). África desde 1935. 2. ed. Brasília: Unesco, 2010. (História Geral da África, v. 8). Adaptação.
Entre 1932 e 1947, o Alto-Volta encontrava-se dividido entre o Sudão francês, a Costa do Marfim e a Nigéria.

O não alinhamento

No contexto de luta contra o Imperialismo, é importante destacar a Conferência de Bandung, ocorrida na Indonésia entre os dias 18 e 24 de abril de 1955.

Do evento, participaram representantes de Estados africanos e asiáticos com o objetivo de promover auxílio mútuo na luta contra as pressões exercidas pelos Estados Unidos e pela União Soviética, além de condenar o racismo e os demais crimes praticados pelas potências imperialistas europeias.

Durante a Conferência foi lançado o conceito de “países não alinhados”, ou seja, o estabelecimento de uma política e uma economia livres das influências estadunidenses e soviéticas, as quais buscavam a formação de blocos sob as suas tutelas.

A Conferência de Bandung em abril de 1955 representou uma reunião internacional sem precedentes, pois pela primeira vez na História moderna um grupo de antigas nações coloniais, outrora sob o jugo europeu, reunia-se para discutir a princípio seus mútuos interesses e, depois, seus pontos de contraste. As superpotências do pós-guerra, Estados Unidos e União Soviética, foram ignoradas. Nenhuma das nações da Europa ou da América esteve presente, nem sequer as nações latino-americanas, sobre as quais os Estados Unidos vinham mantendo um controle político e econômico praticamente total.

Quase todos os 29 países participantes haviam emergido recentemente da condição de colônia ou semicolônia, sendo acentuadamente nacionalistas, anticolonialistas e anti-imperialistas. Quase todos os países asiáticos ali estavam representados [...].

Era patente que os países participantes tinham muito em comum; o problema era saber se esses conceitos unificadores seriam suficientes para unir num só “bloco neutro” as nações afro-asiáticas, com sua diversidade de tradições e interesses nacionais.

MAYER, S. L. A Conferência de Bandung. In: HISTÓRIA do século XX. São Paulo: Abril, 1968. v. 1, p. 2369-2370.

Troca de ideias

Tomando por base a conjuntura da Guerra Fria, discuta com seus colegas as seguintes questões.

  • A relação entre as condições de infraestrutura básicas para as populações coloniais e a intromissão dos Estados Unidos e da União Soviética nos processos de emancipação política.

  • As colônias que realizaram suas emancipações políticas conseguiram manter com facilidade a posição de “países não alinhados”? Justifiquem suas respostas.

Movimentos de emancipação política no continente africano

A complexidade e a dimensão do continente africano não permitem o estudo de todos os processos de emancipação e de todas as guerras civis posteriores às independências. Por esse motivo, foram selecionados alguns casos que permitem uma avaliação dos processos emancipacionistas e das consequências das ações imperialistas em terras africanas.

Movimentos de emancipação política no continente africano

Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

Angola, colônia portuguesa rica em diamantes e petróleo, viveu uma violenta guerra civil para obter sua emancipação política.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o continente africano foi envolvido pela ideia de independência. Em Angola não foi diferente. No território angolano, surgiram três grupos cujo objetivo era lutar pela libertação política de Portugal – o Movimento Popular para Libertação de Angola (MPLA), a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para Independência Total de Angola (Unita). Cada um desses grupos era apoiado pelos Estados Unidos, pela União Soviética e pela China, respectivamente.

Durante a década de 1960, Portugal colocou em prática medidas que visavam evitar a independência de sua colônia. Concederam cidadania a todos os angolanos, garantia de acesso à educação, possibilidade de a população negra exercer cargos públicos e elevaram Angola a província e, mais tarde, a Estado de Angola. Todas essas medidas, entretanto, não impediram que os grupos de oposição iniciassem uma guerra civil.

Em 1974, com a Revolução dos Cravos – que acabou com a ditadura salazarista em Portugal –, o novo governo anunciou a intenção de conceder independência a todas as colônias portuguesas.

A decisão portuguesa de aprovar a independência de Angola, firmada em 11 de novembro de 1975, não trouxe paz para o país, pois os três grupos passaram a lutar pelo poder.

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GIGNOUX, Alan. Destruição causada pela guerra civil em Angola. 1 fotografia, color.

Destruição causada pela guerra civil

Em 1890, Ruanda passou a ser colonizada pela Alemanha. Como não tinha saída para o mar, não foi uma região tão cobiçada quanto as regiões litorâneas do continente africano. Após 1919, a região ficou sob o controle da Bélgica, que estabeleceu um governo muito mais rígido e explorou as rivalidades já existentes entre os tutsis e os hutus, as duas principais etnias da colônia.

Os belgas criaram uma aliança com os tutsis, grupo que detinha exclusividade sobre a posse das terras e dos rebanhos de gado bovino, além de ter acesso aos postos administrativos.

Quando ocorreu a independência do país, em 1962, os hutus já haviam organizado um partido político de grande expressão política.

Após a emancipação política e a instalação da república, as disputas políticas entre tutsis e hutus permaneceram presentes, ora mais violentas, ora menos, dependendo das crises econômicas e dos períodos de fome. Em 1994, entre 6 de abril e 4 de julho, ocorreu o Grande Genocídio de Ruanda. Durante esse período, os hutus mataram cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados. O massacre foi financiado com o dinheiro desviado de campanhas humanitárias que atuavam no país. Uma corte internacional de justiça foi instaurada para o julgamento dos líderes do genocídio.

Na última década, entretanto, Ruanda se tornou um exemplo de superação dos índices de pobreza no continente africano.

Latinstock/Corbis/Howard

DAVIES, Howard. Criança em um campo de refugiados. Kisangani. [ca. 1997]. 1 fotografia, p&b.

Latinstock/Corbis/David

TURNLEY, David. Mulher da etnia Tutsi refugiada. Kigali. [ca. 1994]. 1 fotografia, color.

As diferenças físicas entre os dois grupos (os tutsis têm pele mais clara e estrutura óssea mais delgada; os hutus têm pele mais escura e estrutura óssea mais robusta) facilitaram a execução do grande massacre em 1994.

Em 1460, o navegador português Pedro de Sintra aportou na região da atual Serra Leoa, possibilitando aos portugueses o comércio de escravizados.

Já no século XVII, os ingleses ocuparam essa região, e um século mais tarde, em 1787, fundaram a cidade de Freetown, destinada a receber os escravizados recambiados dos Estados Unidos e de colônias inglesas para a África – daí sua denominação.

Serra Leoa só passou a despertar o interesse dos ingleses quando, em 1930, foram descobertas as minas de diamantes. A partir de então, a região passou a ser fortemente controlada pelos ingleses, que formaram uma elite colonial, os krios, para garantir a posse e a comercialização das pedras no mercado internacional.

O processo de emancipação política de Serra Leoa iniciou em 1961. Entretanto, os ingleses, temendo perder o rico comércio de diamantes, continuaram a manter sua hegemonia sobre o país por meio de seus “representantes nativos”. A independência só ocorreu efetivamente em 1971, quando Siaka Stevens, integrante do partido político Congresso de Todos os Povos (All People’s Congress – APC), proclamou a independência do país.

Durante a década de 1990, o país mergulhou em uma violenta guerra civil entre tropas do governo e a Frente Revolucionária Unida (FRU). Lutar pelo poder significava ganhar o controle sobre as minas de diamantes. Foday Sankoh, o principal líder da FRU, espalhou o terrorismo por todo o país, mutilando milhares de pessoas, escravizando outros milhares na extração de diamantes, raptando e treinando meninos para a guerrilha e matando povoados inteiros.

O acordo de paz entre o governo e a FRU foi negociado pela ONU em 2001. Entretanto, as consequências do Imperialismo e da guerra civil implicaram um dos mais baixos níveis de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em um país na atualidade.

Getty Images/Malcolm

LINTON, Malcolm. Adama e Mariatu Kamara posam em um campo para amputados na Cidade de Murray. Ago. 1999. 1 fotografia, color.

Integrantes da FRU tinham como prática cortar as mãos de indivíduos adultos para que não pudessem exercer o direito do voto. Antes da mutilação, indagavam: “Você deseja manga curta ou manga longa?”.

Moçambique, também colônia portuguesa, conseguiu sua independência em 1974, após dez anos de guerra civil. A luta pela independência de Moçambique, também chamada de Luta Armada de Libertação Nacional, foi travada entre a Frente de Libertação Moçambicana (Frelimo) e as Forças Armadas de Portugal.

A Frelimo, criada em 1962, de orientação marxista-leninista, surgiu da união de três grupos já existentes: União Democrática Nacional de Moçambique (Udenamo); União Nacional de Moçambique Independente (Unami); e Mozambique African Nation Union (Manu).

Assim como em Angola, Portugal mantinha a população negra afastada dos cargos políticos e do acesso à educação. Com o nacionalismo crescente no continente africano após a Segunda Guerra Mundial, grande parte da população moçambicana passou a aderir às propostas nacionalistas de independência. A elite moçambicana, que, aliada aos portugueses, tinha acesso ao poder, não desejava a separação política de Portugal, o que gerou novas disputas internas após a independência.

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JORNALISTA Iain Christie com integrantes da Frelimo, armas e equipamentos. Província de Cabo Delgado. [ca. 1974]. 1 fotografia, p&b.

Tropas portuguesas em Moçambique, 1974

Situadas em um ponto estratégico na ponta sul do continente africano, as terras onde na atualidade se localiza a República da África do Sul foram ocupadas por holandeses e ingleses.

Em 1961 foi proclamada a República, e o país pôde ser considerado independente do domínio imperialista. Entretan- to, os períodos de colonização deixaram fortes marcas que ainda permanecem.

O regime do apartheid pode ser considerado uma das mais pesadas heranças do Imperialismo europeu. A sociedade sul-africana baseada em três categorias raciais (brancos, mestiços e negros) foi mantida mesmo após a independência. O início do regime de segregação racial ocorreu em 1948, mas suas origens remontam ao período de colonização europeia nas terras próximas ao Cabo da Boa Esperança.

©Wikimedia Commons

Nessa placa, fixada em local público pela Secretaria Provincial, é possível ler a seguinte informação: “para uso de brancos”. De acordo com o apartheid, brancos e negros deveriam ocupar lugares distintos nos espaços urbanos ou rurais. Até mesmo algumas profissões eram permitidas somente aos brancos.

©iStockphoto.com/EdStock2

BEREHULAK, Daniel. Nelson Mandela. Londres. 29 ago. 2007. 1 fotografia, color.

Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano, foi a grande voz a clamar pelo fim do apartheid. Em razão de sua militância e atuação contra o regime de exploração e segregação racial imposto, permaneceu preso durante 29 anos. Foi libertado em 1989 e chegou à presidência do país em 1994. Faleceu em 5 de dezembro de 2013.

Organize as ideias

  1. Sobre os movimentos de emancipação política ocorridos na África, analise as afirmativas a seguir.

    I. Em sua maioria, foram marcados por guerras entre as tropas coloniais e os exércitos metropolitanos. Não raramente, após a emancipação política, ocorreram guerras civis entre grupos que lutavam pelo poder.

    II. Os novos países surgidos na África, apesar de seus grandes problemas econômicos, conseguiram manter governos livres da interferência dos Estados Unidos e da União Soviética.

    III. O apartheid na República da África do Sul pode ser considerado o único movimento de segregação social presente no continente africano.

    De acordo com a análise, assinale a alternativa correta.











  2. Escreva as semelhanças e as diferenças entre as guerras civis ocorridas em Ruanda e Serra Leoa após os processos de emancipação política.

  3. Interpretando documentos

    Leia o fragmento e observe a imagem.

    Em 1974 Ryszard Kapus ́cin ́ski chegou a capital etíope, Adis-Abeba, uma cidade conflagrada depois de o imperador ter sido deposto por uma revolução militar. O repórter voltava à Etiópia para ouvir ex-empregados do palácio de Haile Selassie I, o “Escolhido de Deus”, que reinara durante 44 anos com poderes absolutos.

    Através dos depoimentos de alguns dos poucos integrantes da corte que estavam em liberdade e que haviam sobrevivido à mudança de poder, surge um retrato espantoso do soberano e do regime que fizeram da Etiópia um país de extremos: a suntuosidade da nobreza e da elite palaciana contrastava escandalosamente com a fome e a miséria absolutas da população.

    Arriscando a própria vida, o jornalista ouviu histórias de ex-funcionários que privaram da rotina cerimoniosa e ostentatória de Selassie: camareiros, lacaios e assessores, homens com ocupações inusitadas como as de “porta-bolsa” do tesoureiro, “colocador de almofada” do soberano e “cuco” do imperador. [...]

    F.:
    Era um cachorro pequeno, de uma raça japonesa. Chamava-se Lulu e dormia na cama do imperador. Em diversas cerimônias, escapava dos joelhos imperiais e ia urinar nos sapatos dos dignitários. Eles estavam proibidos de se mexer, de esboçar um gesto que fosse ao sentirem os pés molhados: Minha função era andar entre os dignitários, secando os sapatos. Para isso, eu usava um pequeno pano de cetim. Essa foi a minha ocupação por dez anos.
    [...]

    A. M-M.:
    Como lacaio da terceira porta, eu era o mais importante dos lacaios destacados para o Salão de Audiências A sala tinha três portas duplas e três lacaios para abrir e fechar cada uma. Mas eu estava acima dos demais, porque era pela minha porta que o imperador passava. Quando o ilustríssimo amo deixava o salão, era eu que lhe abria a porta. Minha destreza residia na capacidade de abri-la no momento certo, no instante exato. Caso eu a abrisse cedo demais, poderia dar a impressão (sujeita a um severo castigo) de que eu estava apressando o imperador a deixar o salão. Por outro lado, se eu abrisse a porta demasiadamente tarde, o sublime senhor seria obrigado a diminuir o passo, ou até mesmo a parar, o que seria uma afronta a sua dignidade, a qual pressupõe movimentos livres de quaisquer obstáculos.

    ©Wikimedia Commons

    KAPUS ́CIN ́SKI, Ryszard. O Imperador: os bastidores do palácio de Hailé Salassié I – O tirano que governou a Etiópia por 44 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Orelha; p. 15; 36.

    MITTELHOLZER, Walter. Imperador Haile Selassie. Fev. 1934. 1 fotografia, p&b.

    O Imperador Haile Selassie I governou a Etiópia durante 44 anos, estabelecendo uma ditadura na qual a elite gozava de grande riqueza e opulência, enquanto o povo etíope afundava na mais terrível miséria.

    De acordo com os documentos, responda a estas questões.

    1. É possível afirmar que um governo autoritário e que gerou tanta desigualdade social tenha sido fruto da política imperialista das grandes potências? Justifique sua resposta.

    2. O texto aborda a burocracia que pode chegar ao absurdo de instituir cargos imponentes e totalmente irracionais. Estabeleça uma relação entre esse tipo de organização estatal e a educação oferecida à população.

    Descolonização na Ásia

    A Ásia também viveu a interferência das potências europeias no decorrer dos séculos XIX e XX. Algumas regiões, como a Índia, passaram a sofrer a exploração europeia desde o século XVI com a descoberta do périplo africano.

    A exploração da Ásia, entretanto, não foi facilitada pela proximidade, como ocorreu entre Europa e África. Além da distância, a Ásia tinha impérios estabelecidos, com exércitos organizados, características que, de certa forma, dificultaram as ações imperialistas.

    Também nesse continente, o fim da Segunda Guerra Mundial e o início das disputas entre Estados Unidos e União Soviética pela supremacia mundial geraram condições para a expulsão dos imperialistas.

    Marilu de Souza

    Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

    No século XVI, os portugueses chegaram ao arquipélago que forma a Indonésia em busca de especiarias. Um século depois, os holandeses ocuparam as regiões litorâneas e nelas estabeleceram um escritório da Companhia das Índias Orientais com o objetivo de manter o comércio de produtos orientais. Entretanto, as tentativas holandesas de ocupação do território fracassaram e resultaram em combate às frequentes revoltas dos povos da região. O Timor Leste nunca foi ocupado pelos holandeses, permanecendo como colônia portuguesa.

    Com a invasão nazista ao território holandês durante a Segunda Guerra Mundial, a manutenção da colônia pelos holandeses ficou impossível. A Indonésia foi então ocupada pelos japoneses. Com o fim do conflito, iniciou-se a Revolução Nacional da Indonésia, movimento pela emancipação política liderado por Sukarno. Após quatro anos de lutas, em 1949, foi reconhecida a independência da Indonésia. Sukarno foi o primeiro presidente do país.

    O Império do Centro – designação dada à China em decorrência de sua localização geográfica entre o Império Indiano e o Império do Sol Nascente – foi explorado por diversas potências imperialistas durante os séculos XVI a XX.

    Como fruto da exploração imperialista, os chineses vivenciaram a Guerra do Ópio e a atuação dos Boxers, jovens nacionalistas que desejavam a expulsão de todos os estrangeiros do território chinês.

    A China conseguiu o fim da exploração estrangeira com a Revolução Comunista iniciada em 1949 e liderada por Mao Tsé-tung. A revolução ocorrida na China também será estudada na próxima unidade.

    A Índia era conhecida como a terra das especiarias e como tal foi cobiçada por vários reinos europeus durante a Idade Moderna.

    Portugal estabeleceu possessões em Bombaim, Goa e Calicute. A Inglaterra tomou a Índia como colônia sob a condição de protetorado durante o século XIX e lá estabeleceu uma dominação marcada pelo autoritarismo e pelo desrespeito aos costumes e às tradições dos povos que habitavam a região.

    No início do século XX, surgiram vários movimentos que lutavam pela emancipação política indiana e pela expulsão dos ingleses. Entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, esses movimentos passaram a ter mais força sob o comando de Mohandas Gandhi. Segundo Gandhi, a população deveria resistir aos governos ilegítimos sem violência e manter-se fiel à sua consciência, recusando-se a pagar os impostos e não consumindo produtos de origem inglesa. Em 1920, o líder pacifista conseguiu da Inglaterra a anulação dos tributos e de outras medidas governamentais, resultando disso uma reforma administrativa. Em 1935, a Índia elaborou sua Constituição, porém os indianos desejavam a sepa- ração total da Inglaterra.

    Mahatma Gandhi liderou uma luta que pregava a não violência, a desobediência civil e o boicote aos produtos ingleses. Ao promover greves e reuniões públicas pela independência, o líder pacifista suscitou a ação dos ingleses, que passaram a reagir com violência aos movimentos pacifistas. Os Estados Unidos lideraram um boicote internacional aos produtos ingleses até que a independência fosse concedida à Índia. Essa emancipação política ocorreu em 15 de agosto de 1947.

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    GHANDI, Jawaharlal Nehru e Maulana Abul Kalam Azad. Wardha. Ago. 1935. 1 fotografia, p&b.

    Gandhi foi o líder pacifista da emancipação política da Índia. Foi assassinado por um muçulmano que não desejava a união de todos os povos, etnias e religiões em prol de uma Índia forte e com justiça social.

    O título mahatma é originário do sânscrito e significa “grande alma”. Ghandi recebeu esse título em razão de sua defesa do princípio da não violência, conhecido como satyagraha, que pode ser traduzido como “caminho da liberdade”.


    As rivalidades internas geraram a divisão do território indiano e a formação de países independentes, entre eles, Paquistão, Nepal, Butão e Sri-Lanka.


    A Índia obtém a independência no dia 15 de agosto de 1947. É uma das datas mais importante da descolonização: nesse dia, várias centenas de milhões de homens passam da dependência à emancipação. Ao mesmo tempo, porém, a Índia perde a unidade. Essa unidade, que a Grã-Bretanha realizara no interior das fronteiras, não resistiu à independência.

    As forças centrífugas serão mais fortes do que a vontade de permanecer unidos. Até certo ponto, isso é consequência da política britânica, que, para enfrentar as reivindicações dos indianos, sempre encorajara em tudo os muçulmanos, cujo número equivalia a cerca de um quinto da população do continente indiano. Ora, tendo organizado a Liga Muçulmana chefiada por um líder cujo prestígio fazia contrapeso ao de Gandhi, o Dr. Jinnah, e não querendo ser minoria num Estado indiano, os muçulmanos reivindicam a independência. Da incapacidade dos dois partidos de se entenderem resulta a cisão.

    A Índia desmembra-se em vários Estados: a Índia propriamente dita; o Paquistão, o maior Estado muçulmano do mundo; a Birmânia; e o Ceilão. Quatro Estados nascem assim da Índia britânica. Desses Estados, três concordam em permanecer, pelo menos provisoriamente, no Commonwealth; depois, continuam renovando sua adesão: a Índia, o Paquistão, o Ceilão. A Birmânia recusou-se a ingressar.

    RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 183-184.